EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que recebeu um pedido de cooperação do colega Evo Morales para reforçar o Exército boliviano e a fronteira entre os dois países.
"O Evo Morales perguntou se o Brasil poderia vender alguns caminhões para ele transportar as Forças Armadas", disse Lula, ao sair da cerimônia de assinatura da Lei Geral do Turismo, em Brasília.
Segundo o presidente, foi pedido ao ministro Nelson Jobim (Defesa) que verifique com o Exército brasileiro se a indústria automobilística nacional pode produzir esse tipo de veículo.
Outro pedido foi o trabalho conjunto na fronteira para evitar a entrada de homens armados e traficantes em ambos os países. Nessa semana, Morales disse que pistoleiros brasileiros e peruanos teriam sido contratados para atacar pessoas favoráveis ao seu governo nas regiões que entraram em conflito no país.
Segundo Lula, além dessas questões de consenso, não haverá nenhum tipo de medida por parte do Brasil que possa atingir a soberania do país vizinho.
"O que o Brasil está fazendo é o que todos os países da América do Sul estão, que é ser solidário para o fortalecimento da democracia na Bolívia, ser solidário para o restabelecimento da paz, para depois começar a negociar com todos os setores na normalidade", afirmou Lula.
No início da semana, o presidente do Brasil participou da reunião de emergência da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), no Chile, para discutir a questão dos conflitos internos na Bolívia. A reunião terminou com o apoio ao governo do presidente Morales e a rejeição a qualquer tentativa de golpe civil ou de divisão territorial.
Embaixador americano
Mais cedo nesta quarta, Lula disse em entrevista à TV Brasil que apóia a decisão de Morales de expulsar da Bolívia o embaixador dos Estados Unidos Philip Goldberg. "Se for verdade que o embaixador dos EUA fazia reunião com a oposição do Evo Morales, o Evo está correto de mandá-lo embora."
"Não é de hoje e é famosa a interferência das embaixadas americanas em vários momentos da história do continente americano. Então, eu acho que houve um incidente diplomático, se o embaixador estava tendo ingerência na política lá, o Evo está correto", completou.
Morales expulsou Goldberg há uma semana sob a alegação de que ele dava apoio à oposição da Bolívia por ter interesse nos ideais separatistas do grupo. O processo de expulsão ocorreu em meio a violentos e freqüentes protestos de grupos anti-Morales. O pior deles ocorreria na madrugada seguinte à expulsão, na localidade de El Porvenir, e deixaria ao menos 15 mortos.
"O papel de embaixador não é fazer política dentro do país. Ele está como representante do seu país, em uma relação de Estado com Estado, ele representa o Estado. Aqui no Brasil, uma vez, uma embaixadora americana, em um jornal brasileiro, respondeu uma crítica que eu tinha feito ao Bush. Eu mandei o Celso Amorim chamá-la e dizer que não era admissível ela dar palpite sobre a entrevista do presidente da República", contou Lula.
No caso da Bolívia, a expulsão deu origem a uma crise diplomática. No dia seguinte, os EUA expulsaram o embaixador boliviano Gustavo Guzmán. Por solidariedade a Morales, então, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, expulsou o embaixador dos EUA Patrick Duddy. Mais uma vez os EUA reagiram, expulsando o embaixador venezuelano Bernardo Alvarez.
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