sábado, 5 de dezembro de 2009

Apoio do Brasil foi fundamental para Evo, que deve obter vitória, diz pesquisador


Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Há pouco mais de um ano, a Bolívia vivia sob forte tensão. Uma escalada de violência, iniciada em 2007, culminou com a morte de pelo menos 11 apoiadores do presidente Evo Morales em setembro do ano passado.

  • Daniel Caballero/Reuters

    Comício em El Alto, no último dia da campanha eleitoral oficial na Bolívia

Boa parte da população dos departamentos da chamada Medialuna (Meia-Lua) - Santa Cruz, Pando, Tarija e Beni, de maioria não indígena - reivindicavam uma autonomia que, para Evo e seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), com forte identidade étnica indígena, podia descambar para a divisão do país.

Uma Assembleia Constituinte em que o MAS tinha maioria, mas não maioria absoluta, tinha dificuldades para chegar ao texto final da Constituição (em janeiro de 2009, o texto final, defendido por Evo Morales, foi finalmente a referendo, e acabou aprovado por 61,43% dos votos).

Com apoio dos países da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Evo conseguiu isolar os "separatistas" da Medialuna. O apoio foi fundamental, diz o historiador Pinheiro de Araujo, autor de estudo em que compara os partidos de Evo Morales e de Hugo Chávez (Partido Socialista Unido de Venezuela). Além disto, para ele, os líderes que defendiam a autonomia tensionaram demais o processo e acabaram por se isolar.

Processo conturbado
O atual presidente boliviano, avalia Pinheiro de Araújo, deve sair vencedor no primeiro turno da eleição, que acontece neste domingo (06), depois de um ano relativamente tranquilo, para os padrões bolivianos. Apesar da crise, a Bolívia está em claro crescimento econômico. Não houve grandes protestos e os principais adversários de Evo, Manfred Reyes Villa (direita) e Samuel Doria Medina (centro-direita) não são dos departamentos em que o presidente enfrenta maior oposição.

O historiador lembra que a ascensão de Evo Morales seguiu um ritmo conturbando, com protestos populares contra a privatização do sistema de água (em 2000), em Cochabamba, e contra a exportação de gás via Chile, rival histórico, para os Estados Unidos (2003). Esses episódios ganharam os nomes, respectivamente, de Guerra da Água e Guerra do Gás na disputa política boliviana.

Em 2005, o presidente Carlos Mesa foi afastado, após nova crise envolvendo a questão do gás. Em 2006, Morales ocupou as refinarias da Petrobras e nacionalizou o recurso natural. Depois, convocou uma Constituinte. Para Pinheiro de Araújo, Morales tinha condições de lutar para que a nova Constituição fosse aprovada por maioria simples, mas acreditou que conseguiria 2/3 nas votações. "Houve uma soberba do MAS", avalia.

Para o historiador, é possível aproximar os governos de Chávez e de Morales, mas há diferenças significativas entre eles.

De forma resumida, pode-se dizer que Morales depende mais do movimento popular para manter-se à frente do Estado - é a intensa mobilização da sociedade boliviana que levou e mantém Evo à frente do país, enquanto Chávez é quem organiza a mobilização para promover sua revolução bolivariana. "Evo é fruto de um movimento que é maior que ele; caso não existisse, outras lideranças, como Roman Loyaza, dirigente do movimento dos cocaleiros, poderiam estar à frente do processo", diz.

"Eles têm uma linha de ação comum: um programa antineoliberal. Apostam na integração latino-americana e defendem um nacionalismo de esquerda", diz. Mas na prática, as políticas são diferentes: Evo enfatiza os valores indígenas e a antiguidade incaica, enquanto para Chávez a integração é mais econômica e política.

Brasil
Para a Venezuela, o Brasil é mais um parceiro, enquanto o Brasil é visto na Bolíva como "imperialista".

"Evo vê o Brasil e Lula como aliados, mas sua base vê as empresas brasileiras como atores do imperialismo", explica. "Uma coisa é o atual governo, outra são as empresas."

Isso explica em boa medida a decisão de ocupar as plantas da Petrobras no país. Evo enfrenta não apenas oposição à direita, mas também à esquerda, expressa sobretudo pelo MIP (Movimento Indígena Pachakuti).

Para o MIP, Evo é, no mal sentido da palavra, o Lula boliviano, um líder que freia a mobilização e a revolução.

Eleições em São Paulo
No Brasil, 18,6 mil bolivianos estão cadastrados para votar. Eles representam cerca de 10% do eleitorado que se registrou fora da Bolívia para participar das eleições. Além de Brasil, foram cadastros eleitores na Espanha, Argentina e Estados Unidos.

Todos os eleitores bolivianos votam em São Paulo. São cinco locais de votação: Escola Estadual Domingos Faustino Sarmiento (r. Vinte e um de Abril, 970, Brás), Escola Estadual Marechal Deodoro (r. dos Italianos, 405, Bom Retiro), Escola Estadual Orestes Guimarães (r. Canindé, 153, Canindé), Escola Municipal Antônio Sampaio (av. Voluntários da Pátria, 733, Santana) e Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda).

O local de votação foi informado, segundo Jorge Gonzales, representante da Corte Nacional Eleitoral em São Paulo, a todos os eleitores. Além disto, na entrada dos locais de votação haverá um ponto de orientação informatizado, para informar em que mesa é a votação. Informações também podem ser obtidas no site http://www.cne.org.bo ou nos telefones 3331-3303 e 0800-761-1595.

Os recintos eleitorais abrem às 8h e fecham às 17h.

Nenhum comentário: