segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Morales diz que vitória o obriga a acelerar processo de mudança na Bolívia

La Paz, 6 dez (EFE).- O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse hoje que a vitória obtida nas eleições gerais, que ganhou com mais de 60% dos votos segundo as pesquisas, o obriga a "acelerar" o "processo de mudança" que empreende há quatro anos em seu país.

* EFE

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http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2009/12/07/ult1808u150194.jhtm

domingo, 6 de dezembro de 2009

Com forte apoio popular, Morales mantém a Bolívia no rumo da transformação

The New York Times
Simon Romero e Andres Schipani
Em La Paz (Bolívia)

Apesar das frases e pôsteres de Che Guevara, isto aqui não é a Havana de 1969, nem a Manágua de 1979. Em vez disso, o fervor nos escritórios do Vice-Ministério de Descolonização só poderia ser sentido na Bolívia do presidente Evo Morales, que parece rumar tranquilamente para uma vitória eleitoral neste domingo.

Os dizeres nas paredes daqui estão em duas línguas indígenas - quéchua e aimará - sinais inconfundíveis do movimento político que abalou as instituições deste empobrecido país.

"Jisk'a Achasiw Tuq Saykat Taqi Jach'a P'iqincha", diz a saudação no escritório de Monica Rey, que explica que este é o nome, em aimará, da nova unidade que ela chefia, o Diretorado para a Luta Contra o Racismo.

"Estamos no processo de conquistar as mentes de nosso país, e ainda mais desafiador que isso, os seus medos", disse Rey, listando uma variedade de novos projetos, incluindo a troca dos retratos nas cédulas do país. Saem os homens brancos que por muito tempo governaram o país, e entram heróis indígenas como Tupac Katari e Bartolina Sisa, líderes de uma revolta contra o domínio espanhol no século 18.

Evo Morales, presidente da Bolívia

* Aizar Raldes/AFP


Com uma oposição bastante enfraquecida e sua conexão visceral com a maioria indígena - que corresponde a mais de 60% da população - pode-se dizer que Morales, 50, é o líder mais forte que o país tem em décadas.

Este ano, ele venceu facilmente uma reforma constitucional que o permitiu concorrer a outro mandato de cinco anos. Agora, enquanto os bolivianos se preparam para votar neste domingo, as pesquisas mostram que ele e seus aliados estão bem na frente. Morales tem a seu alcance sólidas maiorias legislativas que o permitiram moldar ainda mais o país na qualidade de presidente indígena aimará.

Mas esta mesma liderença rendeu a Morales alguns rivais que não esperava, além da oposição que ele enfrenta por parte das elites tradicionais nas planícies rebeldes do leste. A ampliação de sua influência também é sentida como opressiva por uma variedade de políticos indígenas que lutam para sair de sua sombra.

"Este governo exite para gastar dinheiro nas campanhas de Evo às custas de todos nós", disse Felipe Quispe, 67, índio aimará que entrou na política depois de liderar uma guerrilha nos anos 80 e ser preso nos 90. "Evo é um índio vestido com roupas elegantes, cercado por homens brancos e mestiços."

O icônico Quispe, que comanda um partido radical com uma pequena porcentagem de eleitores, disse que os aimará, que são cerca de um quarto da população de 9,8 milhões da Bolívia, deveriam rejeitar a própria ideia de Bolívia e formar uma terra natal com o povo que fala a língua aimará nos altiplanos do Peru. "Precisamos nos desbolivianizar", disse ele.

Ricardo Calla, antropólogo e ministro de assuntos indígenas em um governo anterior, disse que da mesma forma que Quispe ficou à esquerda do presidente, outros políticos indígenas emergiram em todo o campo ideológico, sugerindo uma classe política mais variada do que a apresentada pela mídia estatal daqui.

No centro, por exemplo, está Savina Cuellar, governadora de uma província no sul da Bolívia. À direita está Vyctor Hugo Cardenas, ex-vice-presidente cuja casa foi atacada por um grupo pró-Morales este ano. Mais à direita ainda, está Fernando Untoja, um intelectual aimará que concorre ao Congresso na coligação de Mandred Reyes Villa, um ex-capitão do exército que está em segundo lugar, bem distante de Morales.

"O próprio Evo", disse o antropólogo Calla, "poderia ser considerado como esquerda autoritária". Contribuindo para essa classificação, ele argumentou, está a resistência de Morales em cooperar com outros partidos, ameaças de prender oponentes e o elogio à sua administração numa propaganda paga pelo governo. Calla chamou a ostentação do governo quanto às conquistas de Morales de "um culto de personalidade" em formação.

O "Cambio", um jornal diário controlado pelo Estado criado por Morales este ano e semelhante ao Granma de Cuba, oferece um exemplo desse exibicionismo. Sua principal matéria do último domingo descrevia a localidade de Puerto Evo Morales, um assentamento pioneiro no norte. Um encarte de história em quadrinhos, "Evo: Do Povo Para o Povo", contava como Morales saiu da pobreza.

Há motivos concretos para a popularidade de Morales. O principal pode ser o crescimento sustentado da economia da Bolívia, que conseguiu aplausos dos economistas, impressionados com seu acúmulo de mais de US$ 7 bilhões (US$ 12 bilhões) de reservas em moeda, mesmo embora o país continue sofrendo com níveis persistentes de pobreza extrema.

Apesar da crise financeira e de uma queda nos rendimentos com a exportação de gás natural, estima-se que a economia da Bolívia tenha crescido até 4% este ano, uma das maiores taxas da região, ajudada pelo estímulo aos programas de bem-estar para crianças, mulheres grávidas e idosos.

"Até o FMI está feliz com a economia da Bolívia; imagine a ironia disso", disse Gonzalo Chavez, um economista boliviano formado em Harvard, referindo-se à crítica frequente de Morales sobre as instituições multilaterais de Washington, como o Fundo Monetário Internacional.

Ainda assim, a tensa relação diplomática entre Washington e Morales é uma das piores no hemisfério, mesmo com a chegada do governo Obama. A embaixada dos EUA aqui continua sem embaixador desde a expulsão de Philip S. Goldberg no ano passado, e operações antidrogas conjuntas foram interrompidas depois que Morales acusou o Departamento Antidrogas de espioná-lo.

Esta semana, ele deu uma entrevista coletiva para jornalistas estrangeiros na qual passou a maior parte do tempo criticando o acordo militar do governo Obama com a Colômbia e o apoio dos EUA à eleição presidencial em Honduras. E ele pareceu cético quanto à uma reconciliação, dizendo que um encontro com o presidente Barack Obama seria "desejável mas não decisivo".

A influência de Morales sobre a sociedade é evidente na cidade de Warisata, onde outro projeto, a Universidade Indígena Tupac Katari, estende-se entre os altiplanos do país.

O campus, com uma visão estonteante do pico Illampu, com seu cume nevado, enfatiza a instrução em aimará e ecoa os sentimentos do partido de Morales, o Movimento para o Socialismo. Colado numa porta, um informe diz que alunos e funcionários são obrigados a comparecer a um curso intensivo sobre o "Capital" de Karl Marx; sanções ameaçam aqueles que não comparecerem.

"O que a invasão europeia e o sistema colonial nos trouxe?", perguntou David Quispe, 37, que ministra um curso sobre a visão de mundo andina.

"A exploração capitalista e racista!", um grupo de alunos respondeu em uníssono, segurando o livro "Indian Thesis" de Fausto Reinaga.

"Aqui os jovens índios estão acostumados a ficarem quietos", disse Quispe depois da aula. "Esse é o momento de eles começarem a falar."

Tradução: Eloise De Vylder

sábado, 5 de dezembro de 2009

Apoio do Brasil foi fundamental para Evo, que deve obter vitória, diz pesquisador


Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Há pouco mais de um ano, a Bolívia vivia sob forte tensão. Uma escalada de violência, iniciada em 2007, culminou com a morte de pelo menos 11 apoiadores do presidente Evo Morales em setembro do ano passado.

  • Daniel Caballero/Reuters

    Comício em El Alto, no último dia da campanha eleitoral oficial na Bolívia

Boa parte da população dos departamentos da chamada Medialuna (Meia-Lua) - Santa Cruz, Pando, Tarija e Beni, de maioria não indígena - reivindicavam uma autonomia que, para Evo e seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), com forte identidade étnica indígena, podia descambar para a divisão do país.

Uma Assembleia Constituinte em que o MAS tinha maioria, mas não maioria absoluta, tinha dificuldades para chegar ao texto final da Constituição (em janeiro de 2009, o texto final, defendido por Evo Morales, foi finalmente a referendo, e acabou aprovado por 61,43% dos votos).

Com apoio dos países da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Evo conseguiu isolar os "separatistas" da Medialuna. O apoio foi fundamental, diz o historiador Pinheiro de Araujo, autor de estudo em que compara os partidos de Evo Morales e de Hugo Chávez (Partido Socialista Unido de Venezuela). Além disto, para ele, os líderes que defendiam a autonomia tensionaram demais o processo e acabaram por se isolar.

Processo conturbado
O atual presidente boliviano, avalia Pinheiro de Araújo, deve sair vencedor no primeiro turno da eleição, que acontece neste domingo (06), depois de um ano relativamente tranquilo, para os padrões bolivianos. Apesar da crise, a Bolívia está em claro crescimento econômico. Não houve grandes protestos e os principais adversários de Evo, Manfred Reyes Villa (direita) e Samuel Doria Medina (centro-direita) não são dos departamentos em que o presidente enfrenta maior oposição.

O historiador lembra que a ascensão de Evo Morales seguiu um ritmo conturbando, com protestos populares contra a privatização do sistema de água (em 2000), em Cochabamba, e contra a exportação de gás via Chile, rival histórico, para os Estados Unidos (2003). Esses episódios ganharam os nomes, respectivamente, de Guerra da Água e Guerra do Gás na disputa política boliviana.

Em 2005, o presidente Carlos Mesa foi afastado, após nova crise envolvendo a questão do gás. Em 2006, Morales ocupou as refinarias da Petrobras e nacionalizou o recurso natural. Depois, convocou uma Constituinte. Para Pinheiro de Araújo, Morales tinha condições de lutar para que a nova Constituição fosse aprovada por maioria simples, mas acreditou que conseguiria 2/3 nas votações. "Houve uma soberba do MAS", avalia.

Para o historiador, é possível aproximar os governos de Chávez e de Morales, mas há diferenças significativas entre eles.

De forma resumida, pode-se dizer que Morales depende mais do movimento popular para manter-se à frente do Estado - é a intensa mobilização da sociedade boliviana que levou e mantém Evo à frente do país, enquanto Chávez é quem organiza a mobilização para promover sua revolução bolivariana. "Evo é fruto de um movimento que é maior que ele; caso não existisse, outras lideranças, como Roman Loyaza, dirigente do movimento dos cocaleiros, poderiam estar à frente do processo", diz.

"Eles têm uma linha de ação comum: um programa antineoliberal. Apostam na integração latino-americana e defendem um nacionalismo de esquerda", diz. Mas na prática, as políticas são diferentes: Evo enfatiza os valores indígenas e a antiguidade incaica, enquanto para Chávez a integração é mais econômica e política.

Brasil
Para a Venezuela, o Brasil é mais um parceiro, enquanto o Brasil é visto na Bolíva como "imperialista".

"Evo vê o Brasil e Lula como aliados, mas sua base vê as empresas brasileiras como atores do imperialismo", explica. "Uma coisa é o atual governo, outra são as empresas."

Isso explica em boa medida a decisão de ocupar as plantas da Petrobras no país. Evo enfrenta não apenas oposição à direita, mas também à esquerda, expressa sobretudo pelo MIP (Movimento Indígena Pachakuti).

Para o MIP, Evo é, no mal sentido da palavra, o Lula boliviano, um líder que freia a mobilização e a revolução.

Eleições em São Paulo
No Brasil, 18,6 mil bolivianos estão cadastrados para votar. Eles representam cerca de 10% do eleitorado que se registrou fora da Bolívia para participar das eleições. Além de Brasil, foram cadastros eleitores na Espanha, Argentina e Estados Unidos.

Todos os eleitores bolivianos votam em São Paulo. São cinco locais de votação: Escola Estadual Domingos Faustino Sarmiento (r. Vinte e um de Abril, 970, Brás), Escola Estadual Marechal Deodoro (r. dos Italianos, 405, Bom Retiro), Escola Estadual Orestes Guimarães (r. Canindé, 153, Canindé), Escola Municipal Antônio Sampaio (av. Voluntários da Pátria, 733, Santana) e Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda).

O local de votação foi informado, segundo Jorge Gonzales, representante da Corte Nacional Eleitoral em São Paulo, a todos os eleitores. Além disto, na entrada dos locais de votação haverá um ponto de orientação informatizado, para informar em que mesa é a votação. Informações também podem ser obtidas no site http://www.cne.org.bo ou nos telefones 3331-3303 e 0800-761-1595.

Os recintos eleitorais abrem às 8h e fecham às 17h.

Oposição chega enfraquecida às eleições

Os candidatos da oposição boliviana chegam ao primeiro turno das eleições deste domingo com poucas chances de vitória, segundo pesquisas de opinião.

Os principais opositores ao governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, são da região chamada de "Meia Lua", no leste do país, e criticados por não terem discurso nacional que atraia, sobretudo, as camadas mais pobres da população, reunidas no Altiplano boliviano.

A "Meia Lua" concentra os departamentos (Estados) de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando. Os dois principais candidatos opositores, Manfred Reys Villa, do Plano Progresso para Bolívia (PPB-CN), e Samuel Medina, da Unidade Nacional (UN), encerraram suas campanhas em Santa Cruz, produtora de gás e petróleo e bastião da oposição ao governo central.

Reys Villa Ex-prefeito e ex-governador de Cochabamba, no centro do país, Manfred Reys Villa, que foi militar, é o principal opositor de Evo neste pleito. Segundo as pesquisas de opinião, como a do instituto Equipos Mori, ele teria cerca de 20% das intenções de voto e Morales pouco mais de 50%.

Na reta final da campanha, o presidente disse que Manfred Reys seria "preso" depois da eleição por supostos atos de corrupção. Ministros da equipe de Morales disseram que o opositor teria comprado passagens para escapar do país.

"Isso não é verdade. Quero ser presidente da Bolívia e não fugir do meu país", afirmou.

Nesta sexta-feira, o ministro de Governo, Alfredo Rada, divulgou uma gravação na qual o opositor ofereceria US$ 150 mil a uma pessoa, cuja identidade não foi revelada, para conseguir votos domingo.

Reys Villa defende maior "segurança jurídica" para as empresas e um país mais "produtivo".

"Com nosso governo e não com o governo do MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Evo, teremos um país mais prospero", disse.

Samuel Medina A bandeira da campanha do terceiro candidato nesta disputa eleitoral, Samuel Doria Medina, é a de estimular os pequenos empreendimentos. Ele também defendeu aumento da produção e exportação de alimentos.

"São quase os únicos no mundo sem agrotóxicos", disse. Doria Medina é economista e empresário e, como Reys Villa, crítico do governo Morales.

"Votem em mim e vamos deixar o governo do MAS no passado", declarou. Os dois acusaram Morales de usar a máquina pública para fazer campanha.

Nesta sexta-feira, quando a campanha já tinha, oficialmente, terminado, o presidente entregou tratores a militares, em Cochabamba, e prometeu campos de futebol para os mineiros de Potosí.

"Não estou desrespeitando as regras eleitorais. Pra mim, a campanha terminou. Estou aqui como presidente do país", disse Morales em Potosí.

Dificuldades Para o analista político José Luis Galvez, a oposição teve dificuldades para eleger seu candidato e acabou se apresentando dividida.

"Mas qualquer um que se apresentasse teria problemas (políticos). O governo Morales não deixa espaço para a oposição e dificilmente aceitará idéias diferentes às suas", disse.

Setores da oposição ganharam protagonismo na política local, defendendo a autonomia econômica de suas regiões. Foram meses de disputas e conflitos políticos e sociais.

O líder daquele movimento, o ex-prefeito de Santa Cruz, Ruben Costas, não disputa estas eleições. Para Costas e seus aliados, Morales realiza um governo "populista" e "dominado pelas orientações" do presidente Hugo Chávez, da Venezuela.