Uma das medidas adotadas pela Polícia Militar em parceria com o Consulado da Bolívia para tentar combater crimes motivados por rixas que vêm acontecendo entre imigrantes sul-americanos em São Paulo é a elaboração de um projeto para ‘transformar’ filhos de bolivianos em policiais militares. O objetivo do comandante-geral, coronel Álvaro Camilo, e do cônsul-geral, Jaime Valdivia Alamanza, é introduzir esses descendentes nas comunidades para melhorar a comunicação entre a PM e os estrangeiros. Na terça-feira (16), o G1 mostrou que de janeiro a julho deste ano a Polícia Militar atendeu 71 ocorrências envolvendo cidadãos da Bolívia, Paraguai e Peru.
Na maioria das vezes, as vítimas de língua espanhola deixam de registrar queixa na delegacia por não compreenderem português ou por estarem em situação irregular no Brasil. O comandante Camilo divulgou também que irá implantar uma base comunitária móvel da PM e câmeras de segurança para monitorar os bairros do Canindé, Pari e Brás na região central, tradicionais redutos dos sul-americanos.
“Nós temos uma dificuldade muito grande com os bolivianos, eles são muito fechados, isolados. E eles usam, em grande parte, um dialeto próprio, que nós [policiais militares] não compreendemos. Pretendemos treinar e dar aula para filhos de bolivianos para que eles possam prestar concurso para a Polícia Militar e, no futuro, ser uma ligação com essa comunidade. Aulas de português, matemática para prestar o concurso da PM como se fosse um pré-vestibular. Nossa ideia é que a gente consiga fazer uma parceria com alguma entidade para bancar isso gratuitamente. Eles não vão ser beneficiados para entrar na polícia, eles vão ter que ter o ensino médio, ficar em turmas de filhos de bolivianos, fazer o curso e passar no concurso. Mas de qualquer forma é a intenção para ter alguém da comunidade para poder trabalhar naquela região”, afirma o coronel Álvaro Camilo.
Facas e bebidas
As áreas onde se concentram os imigrantes latinos na capital paulista vêm apresentando problemas. De janeiro a julho deste ano, a PM diz ter atendido 71 ocorrências envolvendo cidadãos da Bolívia, Paraguai e Peru. Durante esse período, um estrangeiro foi assassinado e ocorreram 34 roubos e 36 casos de lesões corporais. Mas esse número pode ser ainda maior por causa dos imigrantes que relutam em procurar uma delegacia para relatar algum crime. Os ataques ocorrem geralmente à noite e perto de casas noturnas que tocam músicas latinas. O uso de facas e de bebidas está ligado aos ataques.
Segundo Camilo, “a comunidade tem problemas, rixas, brigas, na forma de convivência". Por isso, segundo ele, é preciso tentar se aproximar. “Estamos comprando bases comunitárias agora. A ideia é colocar uma base comunitária móvel na região onde vivem os bolivianos para fazer uma aproximação maior com eles lá. Então, se está havendo esse problema agora, certamente vai ser um lugar que a gente vai mapear e colocar câmeras muito em breve.”
“Temos esse projeto, que já está no papel, em andamento para integrar descendentes de bolivianos na PM. Isso será importante no aspecto físico e da língua. Os bolivianos se sentirão mais à vontade em falar com um policial parecido com eles quando tiverem um problema”, diz o cônsul da Bolívia, Jaime Alamanza.
Levantamento feito pelo G1 mostra que, de novembro de 2010 até o mês passado, somente sete de dez conflitos entre os três povos foram investigados. No período foram assassinados sete estrangeiros - cinco bolivianos, um paraguaio e um peruano. Outros 15 ficaram feridos. A compilação dos dados leva em conta registros oficiais e subnotificações relatadas por testemunhas.
O Ministério Público Estadual e a Polícia Civil de São Paulo apuram a suspeita de rixas entre os imigrantes bolivianos, paraguaios e peruanos. Os promotores Neudival Mascarenhas e Marcelo Rovere instauraram procedimento e vão tentar marcar uma reunião com a PM e consulados da Bolívia e Paraguai para discutir uma solução emergencial para a região afetada.
A delegada Fabiana Sarmento de Sena, da equipe C Leste do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), investiga alguns dos casos. Na segunda-feira (15), ela e sua equipe concluíram o inquérito que apura a morte do boliviano Wilfredo Rodrigues Chambi, de 26 anos, assassinado a facadas no dia 17 de julho por um grupo de paraguaios na Avenida Carlos de Campos, no Pari. Seu primo, também boliviano, e um amigo, filho de bolivianos, também foram feridos e roubados, mas sobreviveram ao ataque. Um paraguaio foi preso em flagrante e confessou participar do crime, segundo a polícia.
De acordo com a delegada,“os autores tiveram como intensão roubar as vítimas” e também “feri-las em razão das rivalidades existentes entre os dois povos”. Foi pedida a prisão preventiva do suspeito e de outro procurado. O pedido foi aceito pela Justiça.
Resta agora o MP denunciar os dois acusados pelo crime. Isso deverá ser feito nos próximos dias.
A respeito da suspeita de rixa entre os povos, a delegada Fabiana Sena diz que existe comportamento de intolerância entre bolivianos e paraguaios, principalmente na região do Brás, o que vem resultando em constantes brigas, crimes contra o patrimônio, agressões e mortes.
“Os depoimentos mostram que o problema entre as etnias pode ser ainda maior”, relata a delegada, que diz ter encaminhado as informações a respeito dessas intolerâncias para conhecimento da Unidade de Inteligência do DHPP e a Delegacia de Crimes Raciais, Delitos e Intolerância (Decradi).
A cônsul paraguaia, María Amalia Barboza, também não desdenha do problema. “Temos informações de que, sim, houve brigas entre latino-americanos, mas não temos uma notícia oficial de que eram paraguaios. Mas eu acho que eles estavam dentro desse grupo. Sabemos disso pela imprensa”, diz a cônsul. “Não tem que haver essas brigas entre latino-americanos porque somos irmãos.”
O Consulado do Peru em São Paulo diz que desconhece as brigas entre integrantes das comunidades boliviana, paraguaia e peruana que moram na capital paulista. “Em todo caso, ante tais fatos, não cabe senão a condenação e a rejeição dos mesmos. O que o Consulado Geral do Peru deseja ressaltar é que estes fatos, se forem confirmados, são atribuídos a pessoas marginais, que de nenhuma maneira representam as comunidades boliviana, paraguaia ou peruana em São Paulo”, afirma Eduardo Pérez del Solar, cônsul-geral adjunto do Peru.
Na maioria das vezes, as vítimas de língua espanhola deixam de registrar queixa na delegacia por não compreenderem português ou por estarem em situação irregular no Brasil. O comandante Camilo divulgou também que irá implantar uma base comunitária móvel da PM e câmeras de segurança para monitorar os bairros do Canindé, Pari e Brás na região central, tradicionais redutos dos sul-americanos.
“Nós temos uma dificuldade muito grande com os bolivianos, eles são muito fechados, isolados. E eles usam, em grande parte, um dialeto próprio, que nós [policiais militares] não compreendemos. Pretendemos treinar e dar aula para filhos de bolivianos para que eles possam prestar concurso para a Polícia Militar e, no futuro, ser uma ligação com essa comunidade. Aulas de português, matemática para prestar o concurso da PM como se fosse um pré-vestibular. Nossa ideia é que a gente consiga fazer uma parceria com alguma entidade para bancar isso gratuitamente. Eles não vão ser beneficiados para entrar na polícia, eles vão ter que ter o ensino médio, ficar em turmas de filhos de bolivianos, fazer o curso e passar no concurso. Mas de qualquer forma é a intenção para ter alguém da comunidade para poder trabalhar naquela região”, afirma o coronel Álvaro Camilo.
Facas e bebidas
As áreas onde se concentram os imigrantes latinos na capital paulista vêm apresentando problemas. De janeiro a julho deste ano, a PM diz ter atendido 71 ocorrências envolvendo cidadãos da Bolívia, Paraguai e Peru. Durante esse período, um estrangeiro foi assassinado e ocorreram 34 roubos e 36 casos de lesões corporais. Mas esse número pode ser ainda maior por causa dos imigrantes que relutam em procurar uma delegacia para relatar algum crime. Os ataques ocorrem geralmente à noite e perto de casas noturnas que tocam músicas latinas. O uso de facas e de bebidas está ligado aos ataques.
Segundo Camilo, “a comunidade tem problemas, rixas, brigas, na forma de convivência". Por isso, segundo ele, é preciso tentar se aproximar. “Estamos comprando bases comunitárias agora. A ideia é colocar uma base comunitária móvel na região onde vivem os bolivianos para fazer uma aproximação maior com eles lá. Então, se está havendo esse problema agora, certamente vai ser um lugar que a gente vai mapear e colocar câmeras muito em breve.”
“Temos esse projeto, que já está no papel, em andamento para integrar descendentes de bolivianos na PM. Isso será importante no aspecto físico e da língua. Os bolivianos se sentirão mais à vontade em falar com um policial parecido com eles quando tiverem um problema”, diz o cônsul da Bolívia, Jaime Alamanza.
Levantamento feito pelo G1 mostra que, de novembro de 2010 até o mês passado, somente sete de dez conflitos entre os três povos foram investigados. No período foram assassinados sete estrangeiros - cinco bolivianos, um paraguaio e um peruano. Outros 15 ficaram feridos. A compilação dos dados leva em conta registros oficiais e subnotificações relatadas por testemunhas.
O Ministério Público Estadual e a Polícia Civil de São Paulo apuram a suspeita de rixas entre os imigrantes bolivianos, paraguaios e peruanos. Os promotores Neudival Mascarenhas e Marcelo Rovere instauraram procedimento e vão tentar marcar uma reunião com a PM e consulados da Bolívia e Paraguai para discutir uma solução emergencial para a região afetada.
A delegada Fabiana Sarmento de Sena, da equipe C Leste do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), investiga alguns dos casos. Na segunda-feira (15), ela e sua equipe concluíram o inquérito que apura a morte do boliviano Wilfredo Rodrigues Chambi, de 26 anos, assassinado a facadas no dia 17 de julho por um grupo de paraguaios na Avenida Carlos de Campos, no Pari. Seu primo, também boliviano, e um amigo, filho de bolivianos, também foram feridos e roubados, mas sobreviveram ao ataque. Um paraguaio foi preso em flagrante e confessou participar do crime, segundo a polícia.
De acordo com a delegada,“os autores tiveram como intensão roubar as vítimas” e também “feri-las em razão das rivalidades existentes entre os dois povos”. Foi pedida a prisão preventiva do suspeito e de outro procurado. O pedido foi aceito pela Justiça.
Resta agora o MP denunciar os dois acusados pelo crime. Isso deverá ser feito nos próximos dias.
A respeito da suspeita de rixa entre os povos, a delegada Fabiana Sena diz que existe comportamento de intolerância entre bolivianos e paraguaios, principalmente na região do Brás, o que vem resultando em constantes brigas, crimes contra o patrimônio, agressões e mortes.
“Os depoimentos mostram que o problema entre as etnias pode ser ainda maior”, relata a delegada, que diz ter encaminhado as informações a respeito dessas intolerâncias para conhecimento da Unidade de Inteligência do DHPP e a Delegacia de Crimes Raciais, Delitos e Intolerância (Decradi).
A cônsul paraguaia, María Amalia Barboza, também não desdenha do problema. “Temos informações de que, sim, houve brigas entre latino-americanos, mas não temos uma notícia oficial de que eram paraguaios. Mas eu acho que eles estavam dentro desse grupo. Sabemos disso pela imprensa”, diz a cônsul. “Não tem que haver essas brigas entre latino-americanos porque somos irmãos.”
O Consulado do Peru em São Paulo diz que desconhece as brigas entre integrantes das comunidades boliviana, paraguaia e peruana que moram na capital paulista. “Em todo caso, ante tais fatos, não cabe senão a condenação e a rejeição dos mesmos. O que o Consulado Geral do Peru deseja ressaltar é que estes fatos, se forem confirmados, são atribuídos a pessoas marginais, que de nenhuma maneira representam as comunidades boliviana, paraguaia ou peruana em São Paulo”, afirma Eduardo Pérez del Solar, cônsul-geral adjunto do Peru.